sábado, junho 07, 2008

ARTIGO

TROCA
O espaço do blog é aberto também a livre expressão daqueles que se sentirem dispostos a contribuir, como é o caso do professor Aroldo Bernhardt, ex-secretário de administração de Décio Lima. Boa leitura.
A ELITE

A palavra elite, durante o século XVIII, caracterizava produtos de qualidade excepcional, posteriormente se transformou em conceito político e sociológico com “A Teoria das Elites” de Gaetano Mosca e sua doutrina da classe política, com o trabalho de Vilfredo Pareto, em sua “teoria da circulação das elites” e com Robert Michels com sua concepção da “lei de ferro da oligarquia”, entre outros.
Elite, agora, de um modo geral, é entendida como um grupo dominante na sociedade, e mais que isso, especificamente, como a classe social com maior poder econômico. Portanto, o embricamento do termo com a idéia de dominação levou facilmente ao elitismo, que decorre de um viés, de uma maneira peculiar de examinar a realidade, a partir da “janela” de quem detém poder, principalmente poder econômico.
Coerente com essa visão, segundo um determinado manual de política e estratégia, muito apreciado pelos segmentos mais conservadores da nossa sociedade, a elite seria o estamento social responsável por detectar, encaminhar e atender as necessidades do povo. Este é o cerne do pensamento conservador: há uma elite que tudo sabe, tudo tem e tudo pode, e há o povo, a massa que precisa ser orientada, dirigida porque não sabe o que quer, não sabe votar, não sabe dizer quais são as suas prioridades, e, portanto, é irresponsável.
Trata-se evidentemente de uma visão de mundo eivada de arrogância e preconceito, muito distante do que legaram os pensadores fundamentais da civilização como Cristo, Buda, Ghandi e outros tantos que há milênios pregam a liberdade, a igualdade e a fraternidade. É também uma postura incompatível com a idéia de democracia. Não custa lembrar que não são poucos os que aos domingos nos cultos e missas se ajoelham, dobrados por manifestações de fé e caridade e que, na segunda, voltam a ser frios e calculistas, como se a vida fosse um grande balcão de negócios. Cabe ainda registrar a existência daqueles que se autodenominam democratas, apesar das práticas discriminatórias e excludentes.
Entretanto, há uma elite sem elitismo, uma elite efetiva e substantiva. Essas pessoas entendem que exercitar a sua humanidade compreende: a percepção de que a sua posição não lhes dá mais direitos e sim mais obrigações; que ética, é diferente de moral; que racional não é o ser que calcula, mas aquele que se baseia em valores éticos, estéticos e até mesmo religiosos; que preservar a natureza não é somente guardar para as próximas gerações, mas sim proteger a vida (em todas as suas manifestações); que o diferente não é melhor nem pior, é apenas vário; que justiça social se faz com a política e não com a economia e finalmente, como diria Gandhi, que “não há caminho para a paz. A paz é o caminho”.

AROLDO BERNHARDT
PROFESSOR

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